Campinas,
23 de abril de 2012 a 06 de maio de 2012 – ANO 2012 – Nº 524
Questões
respondidas por SMS possibilitam avaliar compreensão de conceitos
pelos alunos
- Texto:Cristiane Kämpf
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O uso dos celulares em sala de aula é assunto polêmico. Em 2010, o ex-deputado federal Pompeo de Mattos (PDT-RS) apresentou à Câmara um projeto de lei que proibia o uso dos aparelhos por alunos e professores nas salas de aula de todas as escolas públicas do país. A proposta foi aprovada pela Comissão de Educação e Cultura, mas acabou sendo arquivada. Recentemente o Projeto de Lei 2806/11, de autoria do deputado Márcio Macêdo (PT-SE), retomou a proposta, permitindo porém a presença destes equipamentos, desde que relacionados ao desenvolvimento de atividades didáticas e pedagógicas e após a autorização dos professores ou da diretoria da escola. O uso das novas tecnologias de informação, como lousas eletrônicas, iPads e e-readers, para citar alguns poucos exemplos, parece estar sendo cada vez mais incorporado ao ambiente escolar e, ao mesmo tempo, alimenta discussões pedagógicas sobre qual seria a melhor forma de utilizar tais tecnologias para que elas representem um benefício real ao processo de ensino e aprendizagem.
A
tese intitulada “Um ambiente virtual de aprendizagem que utiliza
avaliação formativa, a tecnologia de mensagens curtas e
dispositivas móveis”, de autoria de Samira Muhammad Ismail, aluna
da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), vem
contribuir para este debate. O trabalho trata do desenvolvimento de
um sistema chamado SMS2E (Short Message Service To Educate), o qual
permite a possibilidade da utilização da tecnologia SMS como uma
ferramenta de apoio à educação. Segundo Samira, o SMS2E oferece
uma solução que facilita o uso da avaliação para a formação, e
não para a punição. Este procedimento, que pode ser aplicado em
aulas presenciais ou a distância, utiliza os celulares, o serviço
SMS e os ambientes virtuais de aprendizagem (AVA) – como o TelEduc,
elaborado pela Unicamp – para permitir que professor e aluno possam
verificar instantaneamente os resultados do processo de ensino e
aprendizagem.
“O
professor formula uma questão de múltipla escolha relativa ao
conceito apresentado em sala e os alunos, então, respondem
utilizando seus celulares e escolhendo a alternativa que lhes parece
correta. Em poucos segundos, as respostas são consolidadas através
do sistema e os resultados são apresentados imediatamente aos alunos
e professores em forma de gráficos. Esta apresentação, feita
durante a aula, permite aos alunos e ao professor identificar
possíveis falhas de ensino ou aprendizagem, a tempo de serem
corrigidas”, explica Samira.
Sendo
assim, o próprio aluno pode fazer uma auto-avaliação e o professor
é capaz de decidir sobre a necessidade de reapresentação do
conceito ou mudança na estratégia de ensino. A pesquisadora lembra
que a avaliação é um recurso extremamente importante em qualquer
processo de ensino e aprendizagem e que, quando preparada e executada
com inteligência, pode contribuir para a melhoria do processo.
Entretanto, segundo ela, a avaliação mais utilizada atualmente é
aquela classificada como somativa, que é realizada somente ao final
de certo período escolar, quando o professor atribui uma nota para o
aluno, ou seja, quantifica o conhecimento adquirido por ele. “O
problema é que, quando este é o único tipo de avaliação
realizado, o processo pode se tornar punitivo, porque não dá chance
para qualquer reação – nem por parte dos alunos e nem do
professor. O ideal é que o aluno possa ser avaliado constantemente,
mas isto não se faz porque, sem o apoio da tecnologia, fica muito
difícil para o professor, já que se criaria uma carga extra de
trabalho, pois ele teria que constantemente preparar e corrigir estas
avaliações adicionais, além de analisar seus resultados. O SMS2E
vem para facilitar todo este processo e permitir que o professor
possa fazer avaliações constantes e interferir no processo de
ensino e aprendizado. Esta é a vantagem da avaliação formativa”,
afirma Samira.
A
proposta da tese, realizada dentro da linha de pesquisa “Ensino de
Engenharia e Inovações Tecnológicas”, com orientação do
professor Gilmar Barreto, levou em conta o fato de que a tecnologia
SMS é inclusiva, pois está presente em todos os modelos de
celulares, desde os mais simples, é fácil de utilizar e não requer
a incorporação de nenhuma tecnologia nova, ou seja, não representa
a adição de nenhuma dificuldade ou trabalho extra ao ambiente do
educador. Ademais, tem um baixo custo de implantação, utilização,
manutenção e substituição.
Barreto
coloca que a ideia principal do trabalho é sempre usar a tecnologia
no sentido de facilitar a educação. “O celular deve ficar ‘bem
ligado’ dentro da sala de aula e tem que ser utilizado como uma
ferramenta que complementa o aprendizado. A tese da Samira foi feita
com os celulares mais simples possíveis. Mas, se pensarmos nos
smartphones, que tendem a ficar mais baratos e vão, eventualmente,
substituir os mais simples, o professor vai poder utilizar esta
tecnologia também com imagens, por exemplo, numa aula de
trigonometria do segundo grau. O professor poderá enviar a questão
‘Aponte neste triângulo qual é o ângulo reto’ acompanhada da
imagem do triângulo. O aluno, por meio da tecnologia touchscreen,
vai apontar diretamente no celular qual é o ângulo reto e
imediatamente o professor saberá quantos alunos aprenderam aquele
conceito ou não. A mesma ideia vale para várias disciplinas”,
aponta o orientador.
O
trabalho foi apresentado em vários congressos e seminários, entre
os quais o Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia (Cobenge,
em Blumenau∕SC); o Congresso Internacional de Educação em
Engenharia (Educon 2011, em Aman ∕Jordânia); e o Seminário de
Inovações Curriculares, em 2011, na Unicamp. Também foram
publicados artigos relacionados ao assunto da tese em revistas
conceituadas, como a IEEE - Multidisciplinary Engineering Education
Magazine e a International Journal of Interactive Mobile
Technologies.
Docente
e aluno
aprovam
iniciativa
Tiago
Médici, aluno do 4º ano do curso de Engenharia Elétrica da
Unicamp, atualmente utiliza o SMS para manter contato com a família
e se comunicar com os amigos, mas aprova a ideia do uso da tecnologia
durante as aulas. “Acho que seria uma oportunidade interessante de
interação com o professor e de auxílio no aprendizado”, afirma.
Luis Carlos Kretly, professor titular da FEEC, testou o SMS2E e
aprovou o resultado: “É uma ferramenta bastante interessante e
fácil de ser utilizada. Eu, com certeza, adotaria o SMS2E durante
minhas aulas na faculdade”.
Durante
o doutorado, Samira pretende continuar aperfeiçoando a ideia e o
sistema. “Agora, pretendemos desenvolver um gateway SMS dedicado à
universidade, oferecendo alguns novos recursos e visando o melhor
aproveitamento do sistema. No entanto, devemos preservar os
benefícios de baixo custo total de propriedade, que envolve a
aquisição, operação, manutenção, substituição e expansão do
sistema. Além disso, devemos manter uma arquitetura aberta,
facilmente integrável às plataformas de software educacionais já
existentes”, finaliza a pesquisadora.
■ Publicação
■ Publicação
Tese: “Um
ambiente virtual de aprendizagem que utiliza avaliação formativa, a
tecnologia de mensagens curtas e dispositivas móveis”Autora: Samira
Muhammad IsmailOrientador: Gilmar
BarretoUnidade: Faculdade
de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC)
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